Aos 30 anos, Daniella de Oliveira é finalista da segunda edição da Taça das Favelas de Campinas pelo São Marcos e vive o sonho que precisou abandonar ao longo da vida. Sem conseguir chegar ao futebol profissional, ela adaptou sua trajetória usando o esporte para estudar e ajudar o próximo.
- Não que eu deixei o
futebol de lado, mas eu entendi o processo. Se eu não me tornasse profissional,
eu poderia ir, além disso. Hoje, isso me torna mais feliz e eu consigo sonhar também
estando na Taça das Favelas. Há dois anos a gente jogou e infelizmente não
conseguimos chegar. Esse ano chegamos em alta, um time de uma base muito forte,
graças a Deus. Valeu a pena suportar todo esse processo e ainda está valendo -
disse Dani.
A atleta nasceu no Ceará e se mudou para Campinas com a mãe e três irmãos quando tinha apenas dois anos de idade. A origem humilde não trazia muita perspectiva para a vida e assim como muitas crianças na comunidade, Dani viu no futebol uma oportunidade para mudar seu futuro.
Com a meta traçada, ela
começou a fazer testes em clubes da região, incluindo o Guarani, mas não foi
aprovada. Começou a trajetória de fato em 2012, em Americana, onde ficou até o
fim do projeto.
- Até então, eu não tinha
nenhuma base ou estrutura emocional. Lá aprendi sobre respeito, sobre como me
portar não só dentro de campo, mas fora também, diante da sociedade. A partir
disso, eu comecei a traçar meus objetivos. Pensava que se eu não chegasse na
seleção, no profissional, o futebol poderia ser o mediador para que eu
conseguisse estudar e me tornar uma pessoa de bem. Uso tudo o que me ensinaram
em questão de humildade, de respeito pelo próximo, empatia e responsabilidade,
dentro de campo e isso me ajudou, porque eu fui conhecendo pessoas e aí comecei
trabalhar no projeto social, onde eu tive pela primeira vez minha carteira
assinada e foi onde eu resolvi estudar, fazer uma faculdade.
As expectativas de jogar em
alto nível foram diminuindo com o passar dos anos, enquanto a vontade de
estudar foi aumentando. Dani não conseguiu uma bolsa de estudos por meio do
esporte, mas se formou em pedagogia com o suor do seu trabalho.
Hoje, além de jogar bola, ela atua em uma casa de passagem que acolhe crianças e adolescentes em situação de extrema vulnerabilidade em Campinas. Lá, aproveita seus conhecimentos adquiridos ao longo da vida para desenvolver atividades esportivas e musicais com os assistidos.
Mas o esforço não para por
aí. Ela também tem uma loja de materiais esportivos que começou quando vendia
boné nas ruas para ajudar a bancar os estudos.
- O recomeço de tudo foi
quando eu conheci o projeto do São Marcos, que acolhe diversas meninas da
periferia. Hoje eu posso dizer que estou revivendo algo que vivi lá trás e
achava que não fosse viver mais, que é disputar a Taça das Favelas. É a segunda
vez e posso agregar não só no time, mas também na sociedade, no bairro que a
gente mora levando o projeto para as crianças. Então o futebol foi um berço
para que eu me tornasse uma pessoa de bem. Meu sonho era ser profissional, mas
a partir do momento que vi que não estava conseguindo alcançar, não desanimei,
mas usei o futebol para ouros fins. Hoje eu consigo trabalhar com o esporte,
com educação e unificar tudo isso para formar pessoas. É isso que eu faço -
finalizou Dani.
Dani estará em campo ao lado das companheiras de time na final deste sábado contra o Paranapanema, a partir das 11h, no Estádio Moisés Lucarelli.
Fonte ge Campinas – Por: Júlia Ribeiro, estagiária, colaborou sob a supervisão de Heitor Esmeriz
Nenhum comentário:
Postar um comentário