sexta-feira, 8 de julho de 2022

ÚNICA TÉCNICA NO MASCULINO DA TAÇA DAS FAVELAS FEZ FACULDADE AOS 50 E SONHA COM PROFISSIONALIZAÇÃO

Responsável por levar o Florence às quartas de final da Taça das Favelas, Maria Madalena dos Santos, de 57 anos, é a única treinadora mulher entre os times masculinos inscritos na competição em Campinas.

Madá, como é conhecida no meio, é apaixonada por futebol e buscou conhecimento por meio do estudo para estar à frente do time. Além de possuir diversas especializações na área técnica, ela se formou em educação física aos 50 anos de idade e sonha em algum dia se graduar pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para tentar se profissionalizar.

- Eu não deixo de estudar. Tenho grande pretensão de fazer outros cursos, tenho muita vontade de fazer o da CBF, mas o custo é muito alto. Mesmo assim, estou aqui e não deixo de estudar o futebol - disse a treinadora.

Madalena, técnica do Florence na Taça das Favelas — Foto: Júlia Ribeiro

Em meio à caminhada, ela também precisou superar o preconceito para conquistar seu espaço em um ambiente ainda predominantemente masculino.

- Quando vou fazer um jogo, às vezes os caras nem me cumprimentam, os outros dirigentes. Eles ficam com medo de perder jogo para mim, acabam perdendo e ficam muito bravos. Mas tem aqueles que me respeitam como os que trabalham comigo. Quando iniciei, tiveram, sim, pessoas que tentaram me atrapalhar. Posso dizer que desdenharam do meu trabalho a ponto de tentarem tirar meninos do time e falar que mulher não sabe treinar. A gente se magoa, é lógico. Fica triste, mas nunca desisti por isso não. Aliás, sempre batalhei pelo meu espaço.

Madalena toma conta do projeto social no Jardim Florence há sete anos e conta com a ajuda dos seus auxiliares Cristóvão e Deva (preparador de goleiros) na formação dos garotos.

Natural de Laginha (MG) e nascida em família humilde, com 15 irmãos, ela precisou deixar de lado inicialmente o sonho de cursar educação física para se dedicar à enfermagem e conseguir seu primeiro emprego.

O incentivo para seguir carreira no esporte veio em 2012 pelo ex-volante do XV de Piracicaba, Edivan Costa (falecido em 2017), que percebeu o interesse de Madalena em seu trabalho esportivo na cidade de Monte Sião e a convidou para fazer o primeiro curso de treinador, em São Paulo.

- Comecei um projeto social lá na minha cidade mesmo. Em 2014, com o FIES, eu consegui fazer educação física em Ouro Fino e seguindo com os cursos conforme tinha oportunidade. Era difícil, mas comecei a ganhar bolsas. Fui buscando conhecimento e fazendo a faculdade. Em 2015 eu transferi para cá e me formei aos 50 anos - comentou Madá.

É a primeira vez que a equipe participa da Taça das Favelas. Até agora, os garotos venceram as duas primeiras partidas, contra Eldorado dos Cajás (4 a 0) e Carlos Lourenço (2 a 1), garantindo a classificação para as quartas de final da competição.

- Está sendo uma alegria muito grande. Eu gosto de trabalhar com o futebol. Tudo o que eu faço, aplico no projeto. Mesmo com toda a dificuldade, eu tento dar uma estrutura, apesar de não ter muito recurso. Eu reformo bolas, dou uma costurada se tem alguma que está ruim. Tudo para que eles possam ter esse momento na vida deles. É muito importante o projeto social para conseguir ajudar na vida e educação dos meninos. O esporte é uma ferramenta muito importante para que a gente possa contribuir no desenvolvimento deles como cidadãos.

Madalena volta a conduzir o time na manhã deste domingo, às 10h30, contra o São Bernardo em busca de uma vaga na semifinal. Independentemente do resultado, ela vai continuar atrás dos objetivos pessoais para que seu legado no esporte e na vida dos jovens se perpetue.

- Quero tentar concursos na área do esporte porque sempre penso que se eu tiver um dinheiro a mais vou conseguir manter o projeto e dar mais estrutura para gente fazer os treinos. A enfermagem foi uma profissão que fui fazer por falta de opção, mas ela acabou me escolhendo e eu acho que desempenhei com grande excelência porque lidar com vidas é gratificante demais. Vou ficar mais na área do esporte mesmo e assim que tiver a oportunidade, estudar mais para melhorar o projeto. Esses são meus sonhos e já estão bem encaminhados - finalizou.

Fonte: ge

Por * Júlia Ribeiro — Campinas, SP

* Júlia Ribeiro, estagiária, colaborou sob a supervisão de Heitor Esmeriz

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